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10 Mitos sobre o Tarot

Texto de Giancarlo Kind Schmid (retirado do site Clube do Tarô)



Decidi escrever esse artigo devido à grande quantidade de emails solicitando-me esclarecimentos sobre determinados pontos na prática (ou estudo) do tarô, já que muitos estudantes não encontram literatura e/ou conteúdos específicos na rede que possam orientá-los. Das questões mais freqüentes, escolhi dez que considerei mais importantes, e procurei “jogar uma luz” sobre os assuntos de forma objetiva. Espero que esse texto possa romper alguns velhos paradigmas que, insistentemente, permanecem no imaginário da prática taromântica.

1 – O tarô está fechado e não será possível efetuar a leitura

O tarô não é como um computador que, quando trava, abre uma tela com o dizer: “seu sistema realizou uma operação ilegal e será fechado”. Não existem “jogos fechados”, somente “tarólogos fechados ao jogo”. Se o praticante convenciona, por exemplo, que o aparecimento do arcano “O Mago” embaixo do maço de cartas após embaralhamento significa que “a abertura do jogo não será possível”, do ponto de vista da leitura isso nada influenciará. Os arcanos na mesa podem ser lidos a qualquer momento, mas mitos como esse refletem dificuldades que, na verdade, são impostas pelos próprios tarólogos.

2 – Ler o tarô é dom divino, portanto, é obrigação do tarólogo fazer caridade.

Tal mito tornou-se um problema de cunho religioso. No Brasil, devido ao sincretismo que vivemos ao fundir conceitos, idéias e valores de ordem espiritual, passou-se a acreditar que o tarólogo está afiliado a alguma prática, normalmente espírita. Mas, é fundamental separar os credos da atividade taromântica propriamente dita, pois o tarô não depende da fé do indivíduo para dar o seu recado. Deste modo, com a concepção de que o tarólogo recebeu um dom de Deus para exercer a prática, ficou estigmatizado que, algo recebido “de graça”, deve ser oferecido caridosamente. A confusão que há nesse meio, justificado na maioria das vezes pela desinformação, impôs ao tarólogo a obrigação de oferecer gratuitamente seus serviços. Não critico quem o faça, porém, é fundamental separar uma condição de outra: o tarólogo é um profissional que estuda, investe e tem gastos como qualquer outro, e deve ser reconhecido como tal. Além disso, a caridade pode ser praticada de outras formas, sem a necessidade de colocar o tarô (e outros oráculos) como intermediários.

3 – O tarô, em si, é composto apenas pelos 22 Arcanos Maiores.

Esse mito foi propagado por Papus no século XIX ao separar os Arcanos Maiores dos Arcanos Menores, criando a concepção de que o primeiro grupo é o verdadeiro tarô e o segundo grupo, uma ramificação da “cartomancia vulgar”. Esse preconceito fora propagado de tal forma, que restringia-se o uso dos Maiores aos homens e os Menores (e outros baralhos de naipes) às “mulheres e afeminados”. Hoje, muitos se desculpam ao afirmar que basta o uso dos Maiores numa leitura, distanciando-se de qualquer chance de estudo dos Menores. Por um lado, entendo como preguiça (por acharem que é difícil seu aprendizado); por outro, falta de conhecimento do conjunto simbólico do tarô em si (que são os 78 Arcanos). Acredito que é possível trabalhar apenas com os Maiores (assim como os Menores), não questiono quem o faz (trabalhei durante 8 anos somente com os Maiores); porém, o tarô é um baralho de 78 Arcanos e deveríamos explorar todo seu potencial simbólico a partir das múltiplas combinações entre Maiores e Menores.

4 – Somente é possível utilizar o baralho depois de consagrá-lo.

Mito oriundo do ocultismo. Mais uma vez, entra o credo no lugar da razão. De nada adianta consagrar baralhos se o praticante não tem conhecimento e nem preparo para uma leitura. Alguns acreditam que consagração é uma espécie de iniciação mística, com propósito de conferir tanto “poderes como proteção” ao baralho e a quem o utiliza. Mas, ao longo desses anos venho observando na prática que a qualidade da leitura e bem estar do tarólogo não depende de qualquer tipo de consagração. Lembremos que o tarô jamais “falará por si mesmo” e de nada adianta parafernalhas esotéricas (incensos, velas, taças com água, etc.) para assegurar uma boa leitura se o tarólogo não estiver amadurecido para desenvolver um bom trabalho.

5 – O tarólogo é tão somente um médium a receber instruções espirituais.

Mediunidade significa mediação. Todos possuímos, em maior ou menor escala, um grau de mediunidade. Porém, quando se toca no assunto, nos reportarmos normalmente às incorporações espirituais. O tarólogo, em primeiro lugar, deve ser um conhecedor da linguagem simbólica e imagética dos arcanos. Qualquer coisa que se afira espiritualmente à prática é oriunda da natureza parapsíquica do praticante. Se o referido é clarividente, clariaudiente, telecinético, médium de incorporação (e outros), isso nada tem a ver com a prática taromântica em si. Quero dizer com isso, que independe da mediunidade do tarólogo a sua competência como praticante. Há tarólogos excelentes que apenas se valem de seu conhecimento simbólico para realizar leituras; há também aqueles que, através da incorporação, realizam excepcionais análises.

6 – Não podemos tocar no baralho de outra pessoa devido às energias.

Se adotarmos tal premissa, qualquer coisa que os outros tocarem não convém colocarmos as mãos. O grande problema é a mistificação em torno das cartas, como se elas estivessem na condição de talismãs. A impregnação energética não se detém ao papel do baralho, acontece, muitas vezes, no simples contato com a outra pessoa. Se você está receptivo e aberto às influências do outro, impossível não se contaminar. Cabe ao tarólogo assegurar suas defesas espirituais e energéticas e isso mais depende do tipo de prática espiritual do profissional do que a atividade taromântica em si. Tocar ou não tocar no baralho de outra pessoa pouco ou nenhuma diferença faz, pois as energias não se prendem exclusivamente ao objeto em uso.

7 - É proibido fazer leituras em datas santas ou domingos.

Isso está mais de acordo com o credo do praticante do que o trabalho em si. Pode-se ler o tarô em qualquer dia, hora, ambiente: basta que o praticante e o consulente se sintam à vontade para desenvolver a consulta. As condições locais mais influenciam do que datas propriamente ditas, pois é aconselhável que o ambiente seja tranquilo e que a disposição (física, mental, emocional, psicológica, espiritual) do tarólogo esteja equilibrada o suficiente para garantir uma orientação adequada ao consulente.

8 – Não é possível realizar atendimentos à distância.

Um mito derrubado na última década. O raciocínio é muito simples: se conseguimos falar de pessoas que nem estão presentes durante a consulta, o que impede de orientar o consulente à distância? Será que é a presença física que assegura a consistência e credibilidade do trabalho? Não sou a favor de tiragens eletrônicas, pois essas não permitem o desenvolvimento da interpretação; já a leitura feita por telefone, email e/ou qualquer programa eletrônico via internet (Skype, MSN, Google Talk, Yahoo, etc.) que proporcione interatividade entre o tarólogo e o consulente, que permita uma boa comunicação (e orientação) entre ambos, não há nenhum tipo de problema.

9 – O tarô nunca erra, quem erra é somente o tarólogo.

Talvez seja o mito mais controverso. A pergunta que devemos fazer é: será que o tarô é infalível como instrumento simbólico? Partindo-se da premissa que os símbolos nada representam se nós, seres humanos, não dermos “voz” a eles; isso impõe o erro a quem sempre interpreta, pois o oráculo, em si, não tem autonomia sem um intérprete. Alguns acham que o tarô tem “vida própria” e se pronunciará por si mesmo. Só que os símbolos são estruturas geradas por nós, humanos, e não podem se manifestar (expressar) se não estiverem inseridos num contexto. Talvez aí esteja o maior equívoco: acreditar que o tarô “se comunica”, independente de um intérprete. Creio que seja uma “via de mão dupla”: os arcanos e seus símbolos dirão aquilo que está a alcance do intérprete; se o tarólogo não estiver preparado, o tarô pouco ou nada dirá sobre a situação. Já o contrário, o tarô dirá tudo que for preciso, pois o tarólogo é conhecedor dos conteúdos simbólicos. Creio que o tarô erra sempre que o tarólogo erra.

10 – Mulheres grávidas não devem consultar o tarô.

A gravidez torna a mulher mais sensível e suscetível emocional e psiquicamente. Talvez esse mito exista porque no período de gestação muitas mães ficam mais impressionáveis e influenciáveis psicologicamente. Se o tarólogo for sensível o suficiente para não preocupar ou angustiar a gestante, creio não ser um problema realizar o atendimento. Cada pessoa é uma pessoa e também não é possível generalizar, afirmando que todas as mães ficam mais vulneráveis emocionalmente durante a gestação; mas, o cuidado que devemos ter ao realizar um atendimento para uma grávida deve ser maior. Todas as emoções que a mãe sentir serão transmitidas à criança, portanto, delicadeza e tato são imprescindíveis. O mesmo vale para consulentes doentes, em fase de separação, recém saídos de seus empregos, que tenham sofrido alguma perda significativa, enfim, o tarólogo deve apoiar e ajudar o consulente fragilizado de forma que o trabalho traga bem estar e não preocupações desnecessárias.


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